Sexta do Mês: Cuidado de si e condições de trabalho na academia

Com: Ana Claudia Marques (USP) e Renzo Taddei (Unifesp)
Mediação: Ana Fiori (PPGAS/USP)
Dia 8 de novembro, às 14h - Sala 24, prédio do meio - FFLCH/USP


Dificuldades associadas à realização de pesquisa empírica e ao cumprimento de prazos, "bloqueio" de escrita, ansiedade, pressão, insônia, insegurança em sustentar argumentos e posicionamentos públicos, isolamento, depressão, pânico, síndrome do impostor e automedicação. Essas e outras dificuldades espreitam as experiências no universo acadêmico e se relacionam diretamente às condições do trabalho no ensino superior. Tais situações, muitas vezes encaradas como um problema individual e apenas relatadas em espaços informais, carecem de visibilidade e enfrentamento ao longo do processo de formação e aprendizado. Seus efeitos são suavizados quando não naturalizados como parte constitutiva da vida acadêmica, na qual os sofrimentos supostamente “fazem parte” dos ritos de passagem tomados como característicos e fundamentais para a formação. Além de afetar o rendimento e a qualidade do trabalho, tais fantasmas comprometem a qualidade de vida da comunidade acadêmica. Apesar de estarem atreladas a um quadro mais amplo e, também, pouco questionado, tais dificuldades evidenciam a recorrência de certas práticas abusivas nas relações acadêmicas, atravessadas por hierarquias de poder, competitividades e pelas dinâmicas produtivistas que regem o fazer científico no país.

Se considerarmos uma antiquada e problemática divisão entre trabalho intelectual e manual, é preciso destacar o prestígio destinado ao trabalho acadêmico. Associadas a certo privilégio simbólico e material as atividades de pesquisa e produção de conhecimento mantem-se distanciadas de uma parcela significativa da população, o que contribui para sua mistificação. A sobreposição entre prestígio e vocação implica que o questionamento sobre a precarização de tais atividades profissionais pareçam um contrassenso. Cercado de ambiguidades e fragilidades, no entanto, faz-se necessário enfrentar questões sobre a profissionalização do trabalho acadêmico e de pesquisa, ou ao menos sobre as condições de sua produção. Tendo como pano de fundo o atual cenário de cortes de recursos, ampliação dos mecanismos de avaliação e preocupações com a produtividade, a Sexta do Mês de novembro busca questionar as condições de produção de conhecimento, destacando os modos como esse cenário afeta a comunidade acadêmica. Sendo assim, como imaginar outros mundos acadêmicos possíveis? Quais engajamentos e cuidados podem ser pensados e, sobretudo, efetivados para garantir o bem-estar de estudantes, professores/as e pesquisadores/as ao longo do processo de produção de conhecimentos? Como criar estratégias de resistência aos métodos de avaliação quantitativos? Como instituir redes de acolhimento neste contexto?