Mulheres-liderança e estratégias contra a Covid-19

Início
Local
Transmissão ao vivo pelo Canal da Sexta do Mês no Youtube

com Maria Antonia Fulgêncio (UNAS) e Watatakalu Yawalapiti (ATIX)
mediação de Anai Vera (PPGAS/USP)

No canal da sexta do mês no youtube - https://bit.ly/sextadomes

Sete meses de covid-19 e o Brasil alcança o segundo lugar com maior número de infectados e mortos no ranking mundial. Em um momento em que a curva de contágio ainda se encontra na ascendente e a pandemia avança sobre regiões do país com baixa capacidade hospitalar, diversos estados e municípios começam a adotar medidas visando a  flexibilização da quarentena. A pandemia reforçou as desigualdades sociais, escancarou os privilégios e mostrou que continuam sendo as pessoas pretas e indígenas as mais vulneráveis. Como sugerir rigor na higiene em casa quando metade da população brasileira não tem acesso à água encanada e esgoto? Como sugerir ficar em casa quando muitos não têm direito à moradia? Como não sair, se a mão de obra dos chamados serviços essenciais é majoritariamente negra — e em alguns contextos, indígena? Como a abertura precipitada vai impactar as diferentes parcelas da população?
Encerrando os debates da “Sexta do Mês: Em tempos de pandemia”, buscamos representantes dos grupos mais afetados pelas políticas de morte do atual governo: mulheres de comunidades indígenas e comunidades negras urbanas e rurais. Como mostrou a etnografia feita por Denise Pimenta (2019) sobre a epidemia do ebola em Serra Leoa, foram as mulheres as principais vítimas da doença, não por acaso: eram elas que, por meio de suas relações de afeto e parentesco, ficaram em risco ao liderar o combate ao ebola em suas comunidades. Esse “cuidado perigoso”, noção que a pesquisadora descreveu em sua pesquisa, se conecta às vivências e formas de cuidado construídas por inúmeras mulheres lideranças frente à chegada da covid-19 em seus territórios no Brasil. As mães yanomami imploram pelos corpos de seus filhos; as alto-xinguanas não poderão chorar seus parentes no ritual Qwarup; na comunidade quilombola de Kalunga, em Goiás, jovens mulheres foram contaminadas por patroas que viajaram para fora do país e depois foram enviadas de volta para a comunidade.
Construindo estratégias próprias para o combate à doença em seus territórios, as mulheres-lideranças convidadas a partilhar suas experiências na Sexta do Mês de Julho darão testemunho dos impactos da doença e das omissões do estado brasileiro em suas comunidades; das iniciativas autônomas construídas para fazer frente a esse cenário e dos desafios que ainda podem se impor adiante. Afinal, será que é o vírus que mata ou a desigualdade? De que forma a pesquisa antropológica pode ajudar a refletir sobre essas construções locais, para além de ressoar demandas?