Nesta fala, apresento as primeiras reflexões de uma pesquisa em andamento, dedicada a investigar os processos de elaboração de corpos genderizados entre os povos Tupi quinhentistas. Rastreando o vocabulário de substâncias abundantemente presente nos relatos dos cronistas — referências a sangue, sêmen, cauim, puba, entre outras —, busco evocar ecos de uma cosmopolítica das substâncias, na qual corpos genderizados eram formados por atos voluntários, coletivos e densamente conceituados. Nesta primeira aproximação, proponho uma visada panorâmica: começo com o papel das substâncias e seus fluxos nos rituais de reclusão pós-menarca e pós-homicídio, que visavam a formação de corpos adultos masculinos e femininos, e concluo com uma reflexão sobre algumas figuras que escapavam à tecnologia colonial binária de gêneros acionada pelos cronistas: as figuras transgênero “tebira" e “çacoaimbeguira", os jovens “panema" e as velhas “uainuy".
Dois ou muitos corpos? Traduções de gênero nos relatos sobre os Tupi quinhentistas
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