Victor Secco apresentará temas centrais de sua pesquisa de doutorado, defendida na University of Manchester (Inglaterra), que investiga as intersecções entre ciência, religião e interações multiespécie, a partir de uma etnografia realizada junto a sacerdotes hindus e microbiologistas na cidade de Varanasi, no norte da Índia. O Rio Ganges, que atravessa a cidade, é simultaneamente reverenciado por suas águas sagradas e conhecido por seus elevados níveis de poluição. Enquanto milhões de pessoas dependem dessas águas para rituais religiosos e atividades cotidianas, o rio recebe diariamente enormes volumes de esgoto e outros poluentes. Pesquisas microbiológicas revelam a presença de diversas bactérias, incluindo cepas resistentes a antibióticos, mas também identificam potenciais terapêuticos, como o uso de bacteriófagos para tratamentos.
A partir desse contexto, a etnografia conduzida por Victor explora como as águas do Ganges são concebidas, manipuladas e vivenciadas, articulando relações com micróbios e divindades. Sua análise lança luz sobre as qualidades materiais e simbólicas da água, especialmente diante dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19. Na ocasião, Victor também fará uma breve apresentação de sua pesquisa de pós-doutorado em andamento na Università Ca’ Foscari Venezia, que investiga as relações entre humanos e microrganismos no campo emergente da chamada biologia planetária. A palestra é uma atividade de extensão do Coletivo de Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade (CHAMA) e integra a programação da disciplina “Antropologia dos Microrganismos”, que vem sendo ministrada pelo pós-doutorando Leonardo Dupin no Departamento de Antropologia da USP.