Coletivo de Antropologia CHAMA promove seminário “Buscando 'o melhor dos dois mundos': como se faz um cão caçador de trufas negras no Chile”.
Nesta apresentação, Luísa Fanaro irá discutir as práticas de preparação de duplas humano-caninas para a caça de trufas negras (Tuber melanosporum) no Chile. A partir de uma etnografia realizada durante sua pesquisa de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFSCAR, a autora mostra que esse processo depende de uma dupla dinâmica de comunicação: entre os cães e as trufas — um fungo subterrâneo — e entre os cães e os humanos. Se, por um lado, é necessário “acondicionar” ou “fabricar” os animais para essa atividade — por meio de um processo que envolve a escolha dos progenitores, a seleção dos filhotes e seu posterior treinamento —, por outro, os cães também participam da formação dos humanos com quem convivem e trabalham, ensinando-os a interpretar sinais, gestos e formas sensoriais de percepção.
Através dos dados de campo, Fanaro argumenta que é por meio do olfato canino que aquilo que está oculto no subsolo pode ser revelado. São os cães que se conectam ao cheiro das trufas, permitindo aos humanos o acesso a um mundo subterrâneo e invisível. Esse mundo só se torna acessível graças à comunicação interespecífica: uma interlocução sensível mediada, de um lado, pelos odores que ligam cães e fungos e, de outro, pela construção conjunta de formas de entender, traduzir e compartilhar essa experiência olfativa.
O Coletivo de Antropologia, Ambiente e Biotecnodiversidade (CHAMA) é um grupo de pesquisa que nasce no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS -USP) e aposta nos estudos clássicos da antropologia da técnica e na emergente antropologia da vida para lançar um programa de ensino, pesquisa e divulgação científica sobre a biotecnodiversidade, isto é, a diversidade de ações e concepções biotécnicas.