Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes
O curso aposta no potencial dos estudos clássicos da antropologia da técnica e da emergente antropologia da vida para descolonizar o imaginário hegemônico acerca das biotécnicas. Seja na sua vertente distópica, associada à teoria crítica, ou em versões utópicas, que estimulam o mercado das inovações, as biotécnicas costumam estar reféns de um imaginário de controle sobre a “natureza”. Tal imaginário colide com a compreensão atual das ecologias do Antropoceno, quando novas dinâmicas ambientais e velhos dilemas coloniais implodem a univocidade da relação entre sujeitos e objetos.
Ao invés de encerrar as biotécnicas nas ansiedades contemporâneas, o curso abre um programa de investigação orientado pelo exame simétrico de matrizes de tecnicidade modernas e não-modernas. Para tanto, nossa base empírica se fundamenta em teorias etnográficas acerca da diversidade das formas de relação das sociedades humanas com seus ambientes, com ênfase nos processos de domesticação de animais, vegetais e forças ecológicas. Essas teorias, oriundas de domínios temáticos variados, deslocam a centralidade do controle e atestam como as interações com os viventes são tão ou mais significativas do que as operações sobre eles.