É com imensa tristeza, preocupação e revolta que o corpo discente do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da USP apresenta seu pesar pelo incêndio ocorrido no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro na noite de ontem.
Tristeza, porque reconhecemos a importância inestimável do Museu na história da ciência brasileira: seu acervo único de dois séculos formado por mais de 20 milhões de itens de coleções de arqueologia, zoologia, antropologia, botânica, dentre outras. Seu papel no registro e visibilização da história de povos ameríndios e como lugar de formação e engajamento de muitos profissionais. O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, que completa 50 anos, em 2018, por exemplo, é instituição fundamental ao desenvolvimento da disciplina no país.
Preocupação, porque não conseguimos sequer estimar a perda de tantxs professorxs, pesquisadorxs, técnicxs e demais profissionais que tinham o Museu como espaço de trabalho e seus recursos como fonte de pesquisa, que dele se beneficiavam tanto e nele investiam tanto. Pessoas marcadas pela história do museu e que lutavam para continuar construindo-a. Trabalhos de uma vida, trabalhos de vidas.
Revolta, porque é incontestável que não estamos diante de um acidente, mas do desenrolar de um esquema de desmonte e abandono da pesquisa e do ensino no país. A redução drástica do orçamento do Museu desde 2014 é apenas o elemento mais evidente de um projeto de desmonte das instituições de produção científica e cultural do Brasil, projeto que tem como consequência também, no âmbito da universidade, a considerável diminuição e suspensão de bolsas de pesquisa, o atraso de salários de professores e funcionários, além da precarização de suas condições de trabalho e o estímulo à privatização.
03 de Setembro de 2018.