Eventos

Início:
sala 109 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP

com Rosenilton Oliveira (FEUSP) e Hélio Menezes (PPGAS/USP)
Mediação: Terra Johari (USP)
Sexta-feira, 18 de outubro de 2019, 14h

“Que ‘negro’ é este na cultura negra?”, pergunta-se Stuart Hall num estudo sobre a presença das heranças culturais africanas no contexto transatlântico. O debate em torno das produções artísticas e culturais e seus respectivos produtores ganham contornos emblemáticos quando se trata de adjetivá-los a partir de marcadores toponímicos (africano, europeu, americano etc) ou étnicos-raciais (negro, indígena dentre outros).

No caso brasileiro a controvérsia sobre o “afro” e o “brasileiro” é um dilema que funda a nação, processo marcado pelo diálogo assimétrico entre sujeitos e culturas. Por um lado, no campo das artes, como mostra o antropólogo Hélio Menezes na curadoria da exposição Histórias Afro-Atlânticas (MASP/Instituto Tomie Ohtake), convencionou-se a chamar “arte negra” aquela em que corpos e pessoas negras eram representadas, sem que a questão da autoria negra estivesse em pauta. Em sua dissertação de mestrado, Menezes argumenta que as dificuldades de conceituação dessa arte e de seus distintos significados, ao longo do século XX, se relacionam com as ambiguidades que informam as relações raciais no Brasil. Por outro, Rosenilton Oliveira, no cruzamento entre práticas discursivas e ações políticas, demonstra como as noções de “cultura” e “identidade negra” assumem concepções ambíguas entre os grupos religiosos que compõem o movimento negro no Brasil, de modo que os chamados “processos de reafricanização” assumem perspectivas por vezes radicalmente distintas mas que, paradoxalmente, permitem estabelecer consensos na esfera pública.

Nesta Sexta do Mês queremos refletir sobre os processos de (re/des)africanização da arte e da cultura produzidos no continente americano. Pensaremos a partir de duas etnografias produzidas no PPGAS/USP, “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”, tese de Rosenilton Oliveira e “Entre o visível e o oculto: a construção do conceito de arte afro-brasileira”, dissertação de Hélio Menezes. Com eles, queremos nos perguntar: Quais os desafios observados no processo de classificação das produções artísticas e culturais de origem africana? O que velam e revelam as categorias que nomeiam produtos e produtores no campo da arte e das identidades culturais?

Início:
sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

com Marco Tobón Ocampo (Unicamp) e Roberta Marcondes Costa (NEIP/USP)
Mediação: Arthur Fontgalant (PPGAS/USP)

A quem pertence a terra? Quem tem o direito de reivindicar partes dela e os vários seres que nela habitam? Quem determina sua distribuição ou divisão?”, pergunta o filósofo Achille Mbembe diante um mundo que limita movimentos e reforça fronteiras. As fronteiras cada vez mais se tornam espaços de reforço e reprodução de vulnerabilidades, de encarceramento de ideias e movimentos. Mas o que são fronteiras?

Entre sentidos geopolíticos e simbólicos, fronteiras são comumente lidas como limites, divisas, espaços de contiguidade. Além da demarcação de espacialidades, a noção de fronteira também produz e acentua vulnerabilidades, cerceia movimentos,  codifica corpos e relações, busca controlar devires e intensidades. O fato, é que a noção de fronteira move há muito o pensamento antropológico, sob diversas formas e em diferentes campos.

Enquanto as etnografias produzidas nas chamadas “regiões de fronteira” territoriais perseguem esta noção, demonstrando tanto sua permeabilidade pelos trânsitos de pessoas e coletivos quanto o contingenciamento das relações entre terras e suas gentes, a própria Antropologia se faz produzindo suas próprias fronteiras, mobilizando objetos e questões que estabilizam e/ou desconstroem delimitações teóricas, conceituais, metodológicas e disciplinares. Se o conhecimento antropológico é inerentemente relacional (Wagner, 1975), as relações dos pesquisadores com outros mundos faz nossa disciplina repensar e (re)inventar suas fronteiras de forma contínua.

Dos estudos de gênero à Antropologia do corpo e da saúde; das práticas científicas às cosmopolíticas nativas, entre outros campos, a Antropologia se depara com “regiões de fronteira”, marcadas por codificações, movimentos, estabilizações e desestabilizações. Se parecem distantes as antropologias que se ocuparam de identificar fronteiras entre grupos étnicos, a noção de fronteira certamente não parece ser um “objeto em vias de extinção” (Sahlins, 1997).

Na Sexta do Mês de setembro queremos pensar a partir das fronteiras e convidamos todas, todxs e todos a conhecer alguns pontos de vista antropológicos em torno desta noção, tomando-a tanto como um dado de determinados contextos de pesquisa etnográfica, quanto como um objeto de reflexão conceitual de nossa disciplina.

Início:
sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

com Alana Moraes (Museu Nacional/UFRJ), Chirley Pankará (USP) e Jacqueline Moraes Teixeira (USP)
Mediação: Jesser Ramos (PPGAS/USP)

Neste fim de semestre, em função da greve e das mobilizações em defesa da ciência, educação pública e das universidades, o coletivo da Sexta do Mês convida a todas e todos a pensar sobre os desafios do fazer antropológico no momento em que estamos vivendo, em que o Brasil passa por tantos retrocessos.

Sob o título "Antropologia em tempos de catástrofe", partiremos de experiências políticas e etnográficas para reunir o corpo discente e refletir não apenas sobre os efeitos do atual momento na produção acadêmica em Antropologia, mas especialmente sobre como trajetórias de colaboração entre antropólogos e seus parceiros, em diferentes contextos de pesquisa, podem produzir formas desviantes (ou criadoras) de interpelar esta realidade - lida por muitos como uma catástrofe. Como propõe Isabelle Stengers em No tempo das catástrofes, o que deve ser feito hoje não é somente questionar os responsáveis pelas crises, mas o de “intervir”, isto é, formular questões, pensar no que deve ser feito e para que exista a possibilidade de um futuro que não seja bárbaro, partindo de lutas que já estão em curso.

Tomando de empréstimo a ideia de "pacto etnográfico", que Bruce Albert desenvolveu em sua relação com os Yanomami, queremos transformar esta Sexta do Mês em uma assembleia, não só de pesquisadores, mas de perspectivas em torno do fazer antropológico - e de diferentes experiências de "pacto etnográfico". Trata-se, enfim, de uma reflexão metodológica mas também eminentemente política.


De Jacqueline Teixeira ouviremos sobre a pesquisa junto a mulheres evangélicas na IURD; Alana Moraes falará desde as cozinhas das ocupações sem-teto na cidade de São Paulo; Chirley Pankará, por sua vez, traz contribuições desde os coletivos e escolas indígenas, partilhando reflexões como pesquisadora, gestora e parlamentar; Jesser Ramos, mediador do debate, nos oferece suas experiências junto à Casa 1 - Centro de Cultura e Acolhimento LGBT.

 

Início:
sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

com Dibe Ayoub (Museu Nacional/UFRJ) e Fabiana de Andrade (USP)
Mediação: Letizia Patriarca (PPGAS/USP)

Em seu célebre estudo sobre os problemas de gênero, a antropóloga Marilyn Strathern chega à conclusão de que, embora a ideia de machismo seja devedora de uma epistemologia ocidental, até mesmo em contextos indígenas, como as Terras Altas da Papua Nova Guiné, as mulheres não estão imunes a atos de violência. Ainda que categorias analíticas sejam construídas histórica e contextualmente, como ensina Strathern, o drama das agressões às mulheres é persistente e segue pondo questões à disciplina antropológica. Afinal, por que, em toda a parte, mulheres, trans e cisgênero, continuam a sofrer violência? No Brasil, uma mulher é vítima de estupro a cada nove minutos; três mulheres são vítimas de feminicídio por dia; a cada dois dias uma pessoa transgênero é assassinada; e a cada dois minutos uma mulher registra uma agressão sob a lei Maria da Penha. Nesta Sexta do Mês convidamos a todxs a pensar sobre esse problema. De mulheres que sofrem abusos em suas relações mais íntimas a mães que praticam atos de violência para proteger suas famílias e suas terras, conheceremos etnografias realizadas em contextos marcados pelas narrativas e perspectivas das próprias mulheres em torno da violência.

Início:
sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

com Andrea Barbosa (Unifesp) e Carolina Junqueira dos Santos (USP)
Mediação: João Campos (PPGAS/USP)

A imagem, como objeto do pensamento antropológico, tem alimentado há muito reflexões sobre sua produção, seu estatuto e seu papel na produção de conhecimento em Ciências Humanas. Mais além, tem dado base para debates teórico-metodológicos, seja a partir de outras teorias da imagem, seja no encontro entre o fazer antropológico e a produção de filmes, fotografias, pinturas, desenhos. Nesta *Sexta do Mês*, queremos convidar a todxs para um debate sobre a potência das imagens como formas de pensar os rumos de nossa história, mas também de traduzir outros modos de existência a partir da experiência imagética. Trata-se, antes de mais nada, da possibilidade de reconstruir narrativas periféricas e criar imagens do social que, por vezes, são apagadas de nossa memória. Trata-se também de discutir as implicações político-epistemológicas do uso de imagens na e para a produção antropológica, de forma colaborativa ou não. Por fim, trata-se ainda de pensar através de imagens, do que elas trazem à tona, como fios da memória, do que elas transformam com sua circulação, do que elas fazem.

Início:
sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP

Com Bruna Franchetto (Museu Nacional/UFRJ) e Majoi Gongora (CEstA/USP)
Mediação: Jaime Mayoruna (PPGAS/USP)

Em marcha pelas ruas das grandes cidades, dançando em festas de aldeias indígenas ou chorando mágoas em um bar sertanejo: a palavra em sua expressão cantada faz da voz um veículo da comunicação entre mundos. Pensando a respeito do poder de transformação e de criação dos cantos em diferente contextos, a Sexta do Mês convida a uma reflexão sobre diferentes aspectos da palavra cantada, seu papel na produção de pessoas e coletivos, sua capacidade de conectar espaços visíveis e invisíveis e suas formas de transmissão através do tempo. Interface entre música e arte verbal, som e sentido, os cantos ganham atenção da Antropologia por meio de um sem número de questões: O que fazem os cantos de um xamã ameríndio e os de um músico imigrante? A quem se canta e como são compostas as palavras e melodias instanciadas por cantadores? Como se aprende a cantar e de que forma repertórios circulam entre diferentes pessoas e gerações? De que maneira cantos são capazes de atravessar e conectar espaços e tempos, transformados ou não pelo uso de tecnologias de registro e difusão? Qual o papel da Antropologia para evidenciar os modos como distintos coletivos dão sentido às artes verbais, às práticas musicais e ao cantar? 

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sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

Com Vitor Grunvald (USP) e Julia Ruiz (ASA/USP)
Mediação: Priscila Almeida (PPGAS/USP)

Corpo, festa, dança, voz, cor, transformação. Estas poderiam ser palavras-chave para descrever as inúmeras manifestações populares que tomaram conta das ruas no Brasil e no mundo, especialmente na última década, e que tornam inescapável a atenção à imbricação entre ação política e formas expressivas.Seja nas poderosas e coloridas manifestações do orgulho LGBTI nas grandes metrópoles ou nas marchas contra figuras políticas e grandes corporações em todo o mundo, o que estes eventos nos mostram é que não existe insurgência sem gesto, sem som, sem formas imagéticas.

Expressões como "meu corpo é político" e "o fervo também é luta" intensificam conexões entre diferentes signos e sua capacidade de produzir novos mundos, novas maneiras de estar no mundo. As disputas sobre as taxonomias e os significados atribuídos a corpos dissidentes, desconformes ou indesejados atravessam processos de captura que vão da redução do conceito de gênero a uma ideologia e chegam até discursos de presidenciáveis. Diante destas constatações, a Sexta do Mês de Setembro - que ocorre excepcionalmente na primeira semana de outubro - convida a pensar e discutir motivações, anseios, bem como potencialidades e efeitos políticos das artes e das corporalidades em levantes populares, atos políticos, sublevações.

Como são expressas e vivenciadas, nestes eventos ou em experiências cotidianas de micropolíticas, as relações entre gênero, arte, etnicidade e sexualidade? Como pensar a agentividade das formas expressivas na construção de corpos e coletivos? Como elas atuam na construção de uma outra política? Como a Antropologia pode fortalecer o debate acerca da transposição de limites entre o que é arte e o que é ação política?

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sala 24 do Prédio das Ciências Sociais e Filosofia da FFLCH-USP.

Com Lux Boelitz Vidal (USP) e Lilia Moritz Schwarcz (USP)
Mediação: Júlia Vilaça Goyatá (PPGAS/USP)

“Onde estão os negros?” pergunta a bandeira, estendida na fachada de um dos mais importantes museus brasileiros, o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Intervenção da Frente 3 de Fevereiro, a obra é ícone de um projeto expográfico, sob curadoria de antropólogos, que reflete sobre os fluxos de pessoas entre África, América, Caribe e Europa marcados pela Escravidão. O MASP não é uma exceção: inúmeras instituições museológicas ao redor do globo têm se engajado em repensar suas práticas, expiando violações coloniais por meio da repatriação de objetos indígenas ou da construção projetos de curadoria colaborativa. Além disso, percebe-se um movimento recente de apropriação destas instituições por povos indígenas e tradicionais, os quais  têm se mostrado cada vez mais interessados na construção de seus próprios museus, apropriando-os como locus de ação política. Refletindo sobre os diferentes papéis assumidos por antropólogos nesses processos, a Sexta do Mês de Agosto convida a pensar: qual o lugar das artes indígenas ou tradicionais, sua exposição e comercialização? De que forma a Antropologia se conecta, historicamente, a  diferentes empreendimentos museológicos e como tem operado inovações neste campo? Que avanços teóricos esses engajamentos têm fomentado na reflexão antropológica sobre formas expressivas? Como as categorias raça e arte transitam nesses processos e se relacionam com o debate e a luta descolonizante? Quais as transformações epistêmicas envolvidas nas realocações dos objetos de exposição para as aldeias/lugares de “origem”?

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Saguão do Prédio do Meio - FFLCH - USP

Com Juliana Borges (FESPSP) e Juliana Farias (PAGU/Unicamp)
Mediação: Milena Mateuzi (PPGAS/USP)

Nos últimos meses, o uso da força do Estado se fez presente nos principais veículos midiáticos do país. A intervenção militar no Rio de Janeiro, o assassinato de Marielle Franco na sequência de denúncias contra a violência policial em Irajá (RJ), bem como o uso da violência como forma corriqueira de resolução dos conflitos no campo, somaram-se ao longo histórico de violências e assassinatos através dos quais grupos dominantes exercem seu poder. O direito de decisão sobre a vida e a morte compõem, segundo o filósofo Achille Mbembe, os atributos fundamentais da soberania, que através do uso político da morte (necropolítica) busca subjugar e imobilizar pessoas e grupos sociais específicos. A estas mortes por uso direto da força somam-se as mortes invisíveis e cotidianas, pela reprodução de condições de miséria e exclusão social, que nos impele a pensar questões relativas à visibilidade e reconhecimento da própria morte enquanto produto da violência socialmente orientada da necropolítica. A antropologia, ao dedicar sua atenção e escuta aos grupos que historicamente foram instituídos enquanto alvos preferenciais do exercício da necropolítica, se insere no campo de disputas em torno das representações e visibilidades a que este debate se orienta. Com atenção à urgência da questão, a Sexta do Mês lança a discussão sobre o conceito de necropolítica: Qual sua relação com conceitos de biopoder, feminicídio, etnocídio e genocídio de negros e indígenas? Em que medida a morte é encarada ou silenciada em nossas experiências etnográficas e de escrita? Que lugar os trabalhos antropológicos ocupam em um campo de disputas em torno da representação da violência e da morte?