Eventos
Ministrantes: Ariane Couto Costa e Pâmilla Villas Boas Ribeiro
Coordenação: Profa. Dra. Rose Satiko Gitirana Hikiji
Período de inscrição: 14 a 16/07
Mais informações em http://sce.fflch.usp.br/node/3725
O curso tem como objetivo geral discutir a utilização do audiovisual como ferramenta em trabalhos de campo. A partir das experiências de produção audiovisual das ministrantes em trabalhos etnográficos no norte de Minas Gerais e no Piauí junto a grupos de cultura afro- brasileira de batuques, terreiros e capoeira de quilombo irá suscitar questões sobre as múltiplas representações que o exercício de filmagem pode provocar. Realizando o registro de diferentes práticas, vimos no suporte do filme, uma opção de narrativa polissêmica que possibilitaria diminuir a assimetria entre as demandas e interesses de pesquisadores e as demandas e interesses dos grupos locais. Construir uma abordagem fílmica baseada na polifonia e no diálogo explícito com os interlocutores possibilita formas alternativas de representação do "outro" a partir do encontro de pontos de vistas. É importante ressaltar que o audiovisual não resolve o problema da representação nas ciências sociais, mas pode fornecer exercícios de criação de zonas de contato, lugares em que as vozes de pesquisadores e colaboradores possam ecoar. Meios para que essas vozes e presenças possam ocupar lugares onde essas pessoas, por motivos políticos e sociais, até então jamais puderam estar.
Ariane Couto é mestranda em Ciências Sociais (Antropologia Social) na área de antropologia das populações afro-brasileiras, pesquisando patrimônio cultural e quilombos na FFCLH-USP.
Especialista (MBA) em Gestão Cultural pela Fundação Getúlio Vargas (FGV SP), com ênfase na área de Gestão do Patrimônio Cultural. Bacharel em letras (linguística e literatura) nas habilitações alemão e português (2009) pela Universidade de São Paulo (USP), licenciada em letras português também pela Universidade de São Paulo (2010).
Pâmilla Vilas Boas é doutoranda em Antropologia Social pela USP e Mestre em Antropologia pela UFMG (2017) com pesquisa em antropologia da performance, sobre os batuques do Rio São Francisco. É integrante do Núcleo de Antropologia, Performance e Drama da USP, diretora do documentário sobre música e memória nos batuques do Rio São Francisco e idealizadora do encontro regional de batuques da região do alto médio São Francisco em parceria com a comunidade quilombola de Bom Jardim da Prata.
Ministrante: Gibran Teixeira Braga
Coordenação: Profa. Dra. Rose Satiko Gitirana Hikiji
Período de inscrição: 14 a 16/07
Mais informações neste link
O curso tem por objetivo pensar a música, em seu contexto mais amplo, como um elemento fundamental em dinâmicas sociais diversas. A partir de bibliografia teórica e etnográfica, discutiremos a relação entre a música e os marcadores sociais da diferença, sob uma perspectiva interseccional, e sua relação com a produção de localidades.
com Letícia Cesarino (UFSC), Carolina Parreiras (USP) e Fábio Malini (UFES)
mediação: Isabel Wittmann (PPGAS-USP)
No canal da sexta do mês no youtube - https://bit.ly/sextadomes
Desde o início do século XXI, a emergência de novas tecnologias de comunicação e informação segue transformando as formas de socialidade e alimentando debates dentro e fora da academia. No campo das mídias, o advento do digital produziu tanto mudanças na tessitura ou materialidade das imagens do cinema, fotografia e televisão -para ficar com apenas três exemplos-, quanto na constituição de novas relações de poder e dominação. Portanto, uma série de mudanças substanciais nos modos de agência e de relação de seus usuários com o mundo e com os demais. Nesse contexto de transformações, com o estabelecimento dos grandes conglomerados de produção de conteúdo digital e de gestão das plataformas de comunicação através da internet, a Sexta do Mês propõe o debate “Redes sociais, fake news e formas de socialidade”, buscando questionar: Como a internet e as diferentes plataformas de comunicação digital produzem formas de socialidade e de pertencimento político e social? Quais são os efeitos dessas transformações sobre seus usuários e suas subjetividades? Qual é o impacto dessas redes digitais nas instituições que a modernidade consagrou como lugares de produção de verdade/objetividade? As consolidadas formas de acesso dessas mídias por usuários e espectadores, como a utilização massiva dos smartphones nas mais diversas esferas da vida (social, política, afetiva, sexual) promovem que tipo de inflexões nas formas como estes produtos são criados por estas grandes empresas de tecnologia? E, principalmente, como a Antropologia e as Ciências Sociais vêm se dedicando a pensar estas novas configurações do social produzidas através destas mídias? Esta edição da Sexta do Mês persegue questões como as acima esboçadas, promovendo um debate sobre como as transformações postas por estas tecnologias se refletem não só nas formas-conteúdo destas plataformas de comunicação e entretenimento, mas também nas subjetividades e na noções de pessoa de seus usuários.
com Flavia Medeiros (UFSC) e Aline Feitoza de Oliveira (Caaf-Unifesp)
mediação: Aline Murillo (PPGAS-USP)
Quinta-feira, 28 de maio de 2020, 17h
No canal da sexta do mês no youtube - bit.ly/2XuCu25
A morte segue a perseguir as humanidades, como um futuro certo - esperado, temido, ou adiado -, inquietando também as ciências sociais e a antropologia. Para além do seu aspecto reflexivo, que nos oferece questionamentos quanto ao sentido da existência, pela morte delineiam-se problemas éticos, políticos, religiosos e socioeconômicos, associados à saúde, à segurança pública, à política sanitária, à geopolítica e à biossegurança.
Como qualquer arte, o encaminhamento da morte, dos mortos e seus remanescentes, seja no Instituto Médico-Legal do Rio de Janeiro, seja entre os indígenas Yanomami, ou ainda no Grupo de Trabalho sobre a Vala Clandestina do Cemitério de Perus, é sempre respaldado por certos princípios éticos, procedimentos especializados, ritos específicos e atende a determinados valores e objetivos coletivos - garantir a passagem entre a vida e a morte, reafirmar coletividades sociais e assegurar a continuidade da presença e, às vezes, esclarecer a história.
O novo coronavírus aparece agora como um inimigo total: ameaça a integridade de cada corpo humano, impacta economias nacionais inteiras, altera a consciência de si de cada pessoa, põe em risco a continuidade da vida e das sociedades tais são conhecidas. Para o historiador camaronês Achille Mbembe, o vírus e a pandemia de Covid-19 nos possibilitam de modo renovado perceber nossa putrescibilidade e viver "na vizinhança da própria morte", de modo que o nosso exato isolamento social seja uma política de contenção: é, no limite, a nossa própria noção de humanidade que está em jogo, outra vez.
Mundo afora, já há tempos, as convivências com valas clandestinas com desaparecidos políticos, conflitos e guerras civis, sepultamentos sem consentimento, extermínios massivos – e, na atual pandemia de covid-19, determinações sanitárias que impedem o luto e escolhas políticas sobre quem deve viver e quem deve morrer –, recobrem a morte de terror, e explicitam as questões éticas do morrer e as políticas dos vivos e os modos de produção da(s) morte(s).
Nesta segunda edição da Sexta do Mês "Em tempos de pandemia", perguntamos: O que as experiências com os mortos de Covid-19 podem revelar das políticas dos vivos, em suas compreensões do corpo, da morte, da vida, do luto e da memória? O que há de novo e o que se repete na Covid-19, na relação entre vivos e seus mortos? E, de modo geral, quem são os mortos? O que há para dizer sobre nossos corpos? Como os representantes políticos dos mortos atuam para defender sua dignidade?
com Denise Pimenta (PPGAS/USP) e João Felipe Gonçalves (USP)
mediação: Renato Sztutman (USP)
[transmissão ao vivo no canal da Sexta no YouTube] - https://bit.ly/sextadomes
Em um de seus textos recentes sobre a pandemia do Covid-19, o filósofo Paul B. Preciado nos exorta, em suas palavras, a “aprender do vírus”, sublinhando como o mesmo revela e reforça “formas dominantes de manejo biopolítico e necropolítico” da população. Outro filósofo, Ailton Krenak, nos convoca a adiar o fim do mundo, admitindo a natureza como uma “imensa multidão de formas", sobre a qual a humanidade, ao se colocar como “medida das coisas”, subestima e atropela; "milhares de pessoas que insistem em ficar fora dessa dança civilizada, da técnica, do controle do planeta (...) são tirados de cena, por epidemias, pobreza, fome, violência dirigida" (2019). Partindo dessas provocações, na primeira Sexta do Mês de 2020 queremos pensar juntos a partir da figura do vírus, tentando aprofundar discussões sobre os impactos sociais dessa pandemia específica e de outras epidemias, além de refletir sobre o lugar da noção de vírus no pensamento social contemporâneo. Nesse encontro virtual entre diferentes perspectivas antropológicas, pretendemos cruzar reflexões sobre algumas das formulações e conceitos-chave de nossa disciplina, tais como: socialidade, relação, marcadores sociais da diferença, corpo, substância, saúde/doença, visível/invisível, humanos/não-humanos, poder, política, Estado. Assim, buscamos pensar: que efeitos epidemias ou o espalhamento de doenças podem ter em diferentes contextos sociais? Como a figura do vírus, visto como um sintoma do “modo de governança do liberalismo tardio” (Povinelli, 2016), agencia passado e futuro? Como ele se relaciona ao poder estatal e como projeta novas gramáticas de produção de corpos? Que lugar essas doenças ocupam no pensamento dos povos ameríndios, que superam há séculos devastadores cenários de contato e de contágio por doenças não indígenas?
This talk advances preliminary thoughts on the production of history in the precarious informal community of New Jerusalem, in the southern Philippine town of Dapitan. This community is the sacred capital of the Kingdom of God, a Messianic organization whose most important rituals are history classes based on elaborate arithmetic and on a combinations of Biblical and Phillippine national narratives. As several other Phillipine groups, this organization sees national hero José Rizal (1861-1895) as God Himself, but interprets him in a particular way, as part of an arithmetic-based plot that portrays the Phillipines as the new promised land of the Israelites. Based on fieldwork conducted in January and February 2019, this lecture examines how, by putting history, arithmetic and nationalism at the center of its theology, the Kingdom of God attracts impoverished people from throughout the country; produces a temporality that is both repetitive and teleological; gives a sacred meaning to colonial and Post-colonial histories; and antecipates a future of autonomy, equality, health, and wealth for Filipinos.
Uma palestra (em inglês) do
Prof. João Felipe Gonçalves
Departamento de Antropologia
Universidade de São Paulo
Debatedor:
Prof. Gideon Lasco
Departamento de Antropologia
Universidade das Filipinas Diliman
Manila, Filipinas
Realização:
Universidade de São Paulo
Agência USP de cooperaçnao internacional
Programa de pós graduação em Antropologia Social
CANIBAL - Grupo de Antropologia do Caribe Global
Partindo de pesquisas etnográficas nas Filipinas, esta palestra refletirá sobre as maneiras pelas quais a dimensão da vertical moldou a experiência humana, concentrando-se na altura humana e em sua criação, significados e materialidades.
4 de Dezembro de 2019, 14hs
sala 24, prédio da Filosofia e Ciências Sociais - FFLCH / USP (Av. Prof. Luciano Gualberto, 315)
Uma palestra (em inglês) do
Prof. Gideon Lasco
Departamento de Antropologia
Universidade das Filipinas Diliman
Manila, Filipinas
Debatedor:
Prof. João Felipe Gonçalves
Departamento de Antropologia
Universidade de São Paulo
com Rosenilton Oliveira (FEUSP) e Hélio Menezes (PPGAS/USP)
Mediação: Terra Johari (USP)
Sexta-feira, 18 de outubro de 2019, 14h
“Que ‘negro’ é este na cultura negra?”, pergunta-se Stuart Hall num estudo sobre a presença das heranças culturais africanas no contexto transatlântico. O debate em torno das produções artísticas e culturais e seus respectivos produtores ganham contornos emblemáticos quando se trata de adjetivá-los a partir de marcadores toponímicos (africano, europeu, americano etc) ou étnicos-raciais (negro, indígena dentre outros).
No caso brasileiro a controvérsia sobre o “afro” e o “brasileiro” é um dilema que funda a nação, processo marcado pelo diálogo assimétrico entre sujeitos e culturas. Por um lado, no campo das artes, como mostra o antropólogo Hélio Menezes na curadoria da exposição Histórias Afro-Atlânticas (MASP/Instituto Tomie Ohtake), convencionou-se a chamar “arte negra” aquela em que corpos e pessoas negras eram representadas, sem que a questão da autoria negra estivesse em pauta. Em sua dissertação de mestrado, Menezes argumenta que as dificuldades de conceituação dessa arte e de seus distintos significados, ao longo do século XX, se relacionam com as ambiguidades que informam as relações raciais no Brasil. Por outro, Rosenilton Oliveira, no cruzamento entre práticas discursivas e ações políticas, demonstra como as noções de “cultura” e “identidade negra” assumem concepções ambíguas entre os grupos religiosos que compõem o movimento negro no Brasil, de modo que os chamados “processos de reafricanização” assumem perspectivas por vezes radicalmente distintas mas que, paradoxalmente, permitem estabelecer consensos na esfera pública.
Nesta Sexta do Mês queremos refletir sobre os processos de (re/des)africanização da arte e da cultura produzidos no continente americano. Pensaremos a partir de duas etnografias produzidas no PPGAS/USP, “A cor da fé: ‘identidade negra’ e religião”, tese de Rosenilton Oliveira e “Entre o visível e o oculto: a construção do conceito de arte afro-brasileira”, dissertação de Hélio Menezes. Com eles, queremos nos perguntar: Quais os desafios observados no processo de classificação das produções artísticas e culturais de origem africana? O que velam e revelam as categorias que nomeiam produtos e produtores no campo da arte e das identidades culturais?
com Marco Tobón Ocampo (Unicamp) e Roberta Marcondes Costa (NEIP/USP)
Mediação: Arthur Fontgalant (PPGAS/USP)
A quem pertence a terra? Quem tem o direito de reivindicar partes dela e os vários seres que nela habitam? Quem determina sua distribuição ou divisão?”, pergunta o filósofo Achille Mbembe diante um mundo que limita movimentos e reforça fronteiras. As fronteiras cada vez mais se tornam espaços de reforço e reprodução de vulnerabilidades, de encarceramento de ideias e movimentos. Mas o que são fronteiras?
Entre sentidos geopolíticos e simbólicos, fronteiras são comumente lidas como limites, divisas, espaços de contiguidade. Além da demarcação de espacialidades, a noção de fronteira também produz e acentua vulnerabilidades, cerceia movimentos, codifica corpos e relações, busca controlar devires e intensidades. O fato, é que a noção de fronteira move há muito o pensamento antropológico, sob diversas formas e em diferentes campos.
Enquanto as etnografias produzidas nas chamadas “regiões de fronteira” territoriais perseguem esta noção, demonstrando tanto sua permeabilidade pelos trânsitos de pessoas e coletivos quanto o contingenciamento das relações entre terras e suas gentes, a própria Antropologia se faz produzindo suas próprias fronteiras, mobilizando objetos e questões que estabilizam e/ou desconstroem delimitações teóricas, conceituais, metodológicas e disciplinares. Se o conhecimento antropológico é inerentemente relacional (Wagner, 1975), as relações dos pesquisadores com outros mundos faz nossa disciplina repensar e (re)inventar suas fronteiras de forma contínua.
Dos estudos de gênero à Antropologia do corpo e da saúde; das práticas científicas às cosmopolíticas nativas, entre outros campos, a Antropologia se depara com “regiões de fronteira”, marcadas por codificações, movimentos, estabilizações e desestabilizações. Se parecem distantes as antropologias que se ocuparam de identificar fronteiras entre grupos étnicos, a noção de fronteira certamente não parece ser um “objeto em vias de extinção” (Sahlins, 1997).
Na Sexta do Mês de setembro queremos pensar a partir das fronteiras e convidamos todas, todxs e todos a conhecer alguns pontos de vista antropológicos em torno desta noção, tomando-a tanto como um dado de determinados contextos de pesquisa etnográfica, quanto como um objeto de reflexão conceitual de nossa disciplina.
com Alana Moraes (Museu Nacional/UFRJ), Chirley Pankará (USP) e Jacqueline Moraes Teixeira (USP)
Mediação: Jesser Ramos (PPGAS/USP)
Neste fim de semestre, em função da greve e das mobilizações em defesa da ciência, educação pública e das universidades, o coletivo da Sexta do Mês convida a todas e todos a pensar sobre os desafios do fazer antropológico no momento em que estamos vivendo, em que o Brasil passa por tantos retrocessos.
Sob o título "Antropologia em tempos de catástrofe", partiremos de experiências políticas e etnográficas para reunir o corpo discente e refletir não apenas sobre os efeitos do atual momento na produção acadêmica em Antropologia, mas especialmente sobre como trajetórias de colaboração entre antropólogos e seus parceiros, em diferentes contextos de pesquisa, podem produzir formas desviantes (ou criadoras) de interpelar esta realidade - lida por muitos como uma catástrofe. Como propõe Isabelle Stengers em No tempo das catástrofes, o que deve ser feito hoje não é somente questionar os responsáveis pelas crises, mas o de “intervir”, isto é, formular questões, pensar no que deve ser feito e para que exista a possibilidade de um futuro que não seja bárbaro, partindo de lutas que já estão em curso.
Tomando de empréstimo a ideia de "pacto etnográfico", que Bruce Albert desenvolveu em sua relação com os Yanomami, queremos transformar esta Sexta do Mês em uma assembleia, não só de pesquisadores, mas de perspectivas em torno do fazer antropológico - e de diferentes experiências de "pacto etnográfico". Trata-se, enfim, de uma reflexão metodológica mas também eminentemente política.
De Jacqueline Teixeira ouviremos sobre a pesquisa junto a mulheres evangélicas na IURD; Alana Moraes falará desde as cozinhas das ocupações sem-teto na cidade de São Paulo; Chirley Pankará, por sua vez, traz contribuições desde os coletivos e escolas indígenas, partilhando reflexões como pesquisadora, gestora e parlamentar; Jesser Ramos, mediador do debate, nos oferece suas experiências junto à Casa 1 - Centro de Cultura e Acolhimento LGBT.