Disciplinas oferecidas no semestre
Prof. Dr. Julio Assis Simoes
Este curso visa oferecer uma visão da sexualidade como objeto de reflexão e pesquisa na antropologia social, mapeando abordagens, perspectivas teóricas, estratégias metodológicas e seu impacto social e político. Busca-se situar criticamente o interesse que o tema da sexualidade e suas intersecções com outras modalidades de organização e classificação da subjetividade e da experiência social (tais como gênero, raça, etnia, classe e geração) têm despertado nas ciências sociais e no debate público contemporâneo, chamando a atenção para as dinâmicas societárias e culturais envolvidas em processos de formação de identidades e constituição de sujeitos de direitos.
Prof. Dr. Pedro de Niemeyer Cesarino
O curso pretende oferecer uma reflexão sobre as relações entre antropologia, tradução e literatura, com ênfase em estudos etnográficos de sociedades ameríndias. Em um primeiro momento, serão estudados trabalhos recentes sobre as noções de tradução na teoria antropológica e em sua problematização do conceito de ontologia, a serem confrontados com estudos mais específicos sobre os regimes ameríndios de conhecimento e de expressão. Dentre esses regimes, destacam-se aqueles relacionados às artes verbais (compreendidas aí expressões tais como narrativas e cantos rituais), cujo sentido tem sido objeto recente de reavaliação, sobretudo por conta dos nexos intersemióticos, ou seja, das conexões fundamentais entre imagem, palavra, música e movimento, capazes de apontar para um estatuto peculiar das manifestações estéticas ameríndias. Além de tais aspectos, serão estudadas as consequências conceituais derivadas de problemas tais como as composições metafóricas e formulares, decisivas para a compreensão dos processos de transmissão e produção de conhecimento verbal e especulativo. Pretende-se, a partir daí, refletir sobre o próprio estatuto de tais formas expressivas e suas (in)compatibilidades com redefinições recentes do literário, que tem se valido da influência de estudos etnológicos para repensar problemas diversos tais como a própria noção de tradução e as configurações enunciativas.
Profa. Dra. Beatriz Perrone-Moisés
O curso consiste de algumas sessões dedicadas à discussão de aspectos gerais da análise estrutural dos mitos, a partir de trechos da obra de Lévi-Strauss, situadas no início e no fim do semestre. As sessões intermediárias serão dedicadas à leitura e discussão do terceiro volume das Mitológicas, A origem dos modos à mesa. totalizando 12 sessões.
Profa. Dra. Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer
A disciplina visa apresentar os contornos do surgimento e do desenvolvimento da antropologia do direito, em alguns países, com ênfase e aprofundamento em propostas que vêm constituindo, desde o final dos anos 1970, a antropologia do direito no Brasil, caracterizada por estreitos diálogos com estudos de gênero, estudos de outros marcadores sociais da diferença, da antropologia da política e dos direitos humanos.
Prof. Dr. Renato Sztutman
1) Sobre a relação entre teoria e etnografia; 2) Antropologia, cognitivismo e ciências da percepção; 3) Antropologia e História; 3) Crítica pós-moderna e pós-colonial; 4) Antropologia Simétrica e “virada ontológica”; 5) Antropologias colaborativas e antropologias indígenas.
Lançaremos foco sobre três conjuntos de questões, a saber: 1) Em que sentido uma teoria antropológica é possível? Como conceitualizar a relação entre teoria nativa e teoria antropológica? O que dizer sobre a articulação entre teoria e etnografia? 2) O que fazer com dicotomias que fundaram a disciplina – como sujeito e objeto (do conhecimento e da ação), indivíduo e sociedade, natureza e cultura –, e que hoje se apresentam insuficientes e falhas, como revelam diferentes críticas etnográficas e epistemológicas? 3) Quais os desafios de uma “auto-antropologia”? O conceito de alteridade é mesmo constitutivo da prática antropológica? Quais as contribuições das novas antropologias feitas por indígenas para esse debate? O que seria uma antropologia colaborativa? Não se trata aqui, evidentemente, de buscar responder a estas questões por demais amplas, mas sim de examiná-las, desdobrá-las e situá-las em diferentes debates contemporâneos. Não se trata tampouco de realizar um panorama completo da produção teórica destas últimas quatro décadas, mas sim de selecionar algumas reflexões significativas e localizadas, capazes de articular problemas advindos de diferentes regiões da prática e do pensamento antropológicos.
Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes
O curso aposta no potencial dos estudos clássicos da antropologia da técnica e da emergente antropologia da vida para descolonizar o imaginário hegemônico acerca das biotécnicas. Seja na sua vertente distópica, associada à teoria crítica, ou em versões utópicas, que estimulam o mercado das inovações, as biotécnicas costumam estar reféns de um imaginário de controle sobre a “natureza”. Tal imaginário colide com a compreensão atual das ecologias do Antropoceno, quando novas dinâmicas ambientais e velhos dilemas coloniais implodem a univocidade da relação entre sujeitos e objetos.
Ao invés de encerrar as biotécnicas nas ansiedades contemporâneas, o curso abre um programa de investigação orientado pelo exame simétrico de matrizes de tecnicidade modernas e não-modernas. Para tanto, nossa base empírica se fundamenta em teorias etnográficas acerca da diversidade das formas de relação das sociedades humanas com seus ambientes, com ênfase nos processos de domesticação de animais, vegetais e forças ecológicas. Essas teorias, oriundas de domínios temáticos variados, deslocam a centralidade do controle e atestam como as interações com os viventes são tão ou mais significativas do que as operações sobre eles.
Profa. Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques
O objetivo deste curso - Escavações da Memória - é aproximar paradigmas teóricos, epistemológicos, conceitos e metodologias da antropologia e da arqueologia que sejam pertinentes para pensar a memória, tanto nos sentidos de profundidade histórica e temporal, quanto nos sentidos de produção da materialidade e das relações com o espaço e o ambiente. Daremos preferência a trabalhos e debates teóricos de ambas as disciplinas que possibilitem pensar a memória segundo processos de criação da cultura material, das relações com a paisagem e a natureza, mas também segundo práticas sociotécnicas que envolvam relações com viventes, mortos, espíritos, ancestrais, vegetais, objetos e animais. Por essa via, o objetivo do curso é debater e refletir as maneiras pelas quais a memória se apresenta como algo fundamental para a experiência e a criação de mundos e ontologias distintas, uma vez que as formas de passado com que a antropologia e arqueologia trabalham nem sempre são representações sociais e coletivas de antigas civilizações e tradições, mas aquilo mesmo que constitui o que os seres (e os seus mundos) são e fazem no presente.
Profa. Dra. Fernanda Arêas Peixoto
O curso propõe uma reflexão acerca da relação entre pessoas, deuses e coisas nas religiões de matriz africana. Para isso, serão examinados textos teóricos e etnográficos que, de maneira direta ou indireta, abordam o tema das chamadas “materialidades” no universo dessas religiões, em especial no Brasil e em Cuba. Com isso, pretende-se explorar os diferentes modos de fazer, criar e compor com forças que habitam esses universos. A hipótese central do curso é que essas religiões nos propõem uma certa “ecologia de práticas” que escapa ao modelo hilemórfico ocidental, propondo em seu lugar um mundo povoado por forças que constituem pessoas, deuses e coisas mutuamente. Por fim, o curso pretende se debruçar sobre os diferentes processos de apropriação e expropriação dos artefatos religiosos de matriz africana, a fim de refletir sobre possíveis políticas de restituição e reparação que levem em conta a dimensão propriamente cosmopolítica imbricada nestes processos.
Profa. Dra. Heloisa Buarque de Almeida
Dra. Carolina Parreiras
O curso tem como proposta percorrer a produção teórica de Veena Das, desde seus primeiros escritos até as produções atuais. Tendo em vista sua prolífica produção, a disciplina percorrerá seus escritos sobre violência, sofrimento social, cotidiano e ordinário, etnografia, aproximações entre antropologia e filosofia, antropologia das margens, dentre outros. Sobretudo, busca mostrar a rentabilidade de vários conceitos propostos pela autora, bem como trazer algumas de suas parcerias com outros autores, dentre eles, Arthur Kleinman, Didier Fassin e Deborah Poole, e suas influências como Stanley Cavell e Wittigenstein. Por fim, tenta pensar a influência de Veena Das no pensamento antropológico brasileiro. O curso pretende fornecer aos participantes elementos analíticos e teóricos para lidar com os temas propostos, permitindo assim um melhor entendimento da realidade social.
Profa. Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques
Através do debate proposto, gostaríamos de oferecer leituras e discussões que permitam refletir sobre outras narrativas e construções das relações familiares e conjugais. O objetivo é conduzir as pessoas inscritas na disciplina através de produções etnográficas contemporâneas que evidenciam os entrelaçamentos entre substâncias e memórias na produção das relações, em especial as de parentesco. A disciplina de leitura também visa ampliar perspectivas sobre os temas que compõem ou são compostos pelas relações familiares.
Profa. Dra. Sylvia Caiuby Novaes
Como parte da linha de pesquisa “Antropologia das Formas Expressivas”, o objetivo deste curso é apresentar produções fotográficas e da arte contemporânea. A partir desses materiais, será possível refletir sobre os modos de ver próprios da fotografia e da arte, bem como as afinidades entre antropologia e imagem na produção de imaginários sociais, raciais e culturais.
Prof. Dr. João Felipe Gonçalves
O curso propõe um olhar para os diferentes modos de se relacionar com e no espaço caribenho através das suas relações raciais. O ordenamento territorial e o controle impostos pela empresa colonial em suas diversas versões metropolitanas (espanholas, francesas, inglesas e holandesas) também forneceram linguagens e formas para as relações entre colonos, escravizados africanos e indígenas entre os séculos XVI e XIX, baseadas sobretudo no modelo produtivo e espacial da plantation. A partir do século XIX, nas décadas que se seguem à Revolução Haitiana, surgem novas conformações de casas, remontando às organizações territoriais cimarronas ou maroons (quilombolas). Acompanhando as transformações no mundo, novas formas de organização política se estabelecem na passagem para o século XX. O imperialismo estadunidense marca as maiores ilhas do Caribe: Cuba, Porto Rico, Haiti e República Dominicana. Em resposta e diante da crescente urbanização, organizações de trabalhadores, partidos e sindicato, passaram a orientar a ação política popular. Através destas ações coletivas e das revoluções decorrentes, se expõem as diferenças e entrelaçamentos entre campo e cidade (ou rural e urbano). Desde a segunda metade do século XX, o Caribe se afirma globalmente a nível global como espaço propício para o turismo de sol e mar. Devido às paisagens exuberantes de suas praias, um novo tipo de movimento econômico e político se estabelece de forma progressiva: a ocupação das áreas costeiras por grandes resorts.
Diante dessas transformações históricas, a disciplina segue quatro formas de espacialização (plantation, casa, revolução e destino turístico) e suas morfologias através do tempo dialogando direta e indiretamente, com questões como gênero, relações raciais, história e poder, colonialidade/pós-colonialismo e neoliberalismo. O curso segue a ordem plantation, casa, revolução e destino turístico, somente como referencial de apresentação, procurando sempre que possível, demonstrar como esses modos de espacialidade se encontram.
Prof. Dr. Renato Sztutman
O curso tematiza atitudes filosóficas em suas relações com antropologias contemporâneas, com foco nas chamadas “viradas ontológicas” do final do século passado. Mas também traz à cena visões filosóficas alternativas, a saber, oriundas da chamada “filosofia analítica” e em particular aquelas inspiradas por Wittgenstein. Está em questão a validade de conceitos como verdade e racionalidade para ontologias indígenas e de matriz africana, entre outras. A meta geral do curso é submeter ao crivo da crítica a tese segundo a qual a anarquia ontológica necessita como complemento critérios pragmaticistas de verdade e de racionalidade.
Prof. Dr. Stelio Alessandro Marras
Prof. Dr. Alexandre de Freitas Barbosa
O curso ora proposto tem como objetivo a recuperação crítica e renovada do pensamento de Darcy Ribeiro sobre o Brasil (e os brasis). Diante dos constrangimentos políticos e ambientais, sociais e ecológicos de hoje, como herdar seu pensamento? Como mapear e triar suas influências e ramificações na inteligência do país? Onde a pertinência do uno e do diverso nele(s) hoje? Quando o Brasil, quando os brasis?