Disciplinas oferecidas no semestre
Profa. Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques
O curso visa oferecer um espaço de reflexão ampliado sobre as artes da pesquisa antropológica, seus desafios e derivas, a partir dos projetos e experiências de investigação dos alunos, de modo a auxiliá-los, pela discussão integrada e comparada, em seus respectivos trabalhos. O objetivo central é realizar uma reflexão detida sobre procedimentos, recortes e escolhas analíticas, com o auxílio da troca de experiências entre pesquisadores provenientes de diferentes campos e subespecialidades no interior da Antropologia. A discussão coletiva se beneficiará da intervenção de um debatedor, previamente escolhido, e dos comentários dos demais alunos e da professora. Esse debatedor será um outro aluno do curso e, se for do interesse do aluno, um convidado externo poderá também participar da sessão de discussão de seu projeto. Indicações bibliográficas serão feitas ao longo do curso, em função das questões colocadas pelos projetos e de dois nortes centrais que orientam a disciplina: 1. a variedade de formas e feitios da pesquisa antropológica e 2. a inseparabilidade entre teoria e método.
Prof. Dr. Vagner Gonçalves
O curso apresenta, na primeira parte, uma perspectiva da formação das religiosidades afro-brasileiras a partir das principais matrizes que as geraram: as religiosidades africanas, o catolicismo popular e as cosmologias indígenas. Considerando a religião como um sistema cultural, privilegia, numa abordagem sincrônica, os dois modelos mais conhecidos destas religiões (o candomblé e a umbanda), tratando-os em termos de estrutura ritual, cosmologias, liturgia, organização social etc. Na segunda parte, propõe uma discussão sobre os diálogos das religiosidades afro-brasileiras com algumas esferas da cultura nacional (música, dança, festas populares, literatura, cinema, artes plásticas, patrimonialização etc.) buscando analisar as estratégias e os contextos políticos que os possibilitam. Finalmente, na terceira parte, apresenta algumas tendências contemporâneas de análise dos significados das heranças africanas nas construções político-identitárias das populações negras no Brasil considerando desde processos de reconhecimento (como os de patrimonialização de bens culturais afro-brasileiros) até os de ataque e repúdio (como os processos de intolerância religiosa e racismo).
Profa. Dra. Laura Moutinho
A disciplina tem por objetivo principal a discussão e aprimoramento do projetos de pesquisa dos alunos ingressantes no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. Além de examinar o conteúdo e a forma dos projetos, o curso busca fornecer aos alunos um treinamento em discussão acadêmica com colegas de diversas subáreas da antropologia.
Profª Drª Ana Claudia Duarte Rocha Marques
O ponto de partida desse curso é a intrínseca, porém pouco explorada relação, entre parentesco e memória; sua motivação inicial é a hipótese de que ambos se moldam mutuamente, onde quer que o parentesco norteie a vida social. Nesse sentido, genealogias, narrativas, iconografias, arquiteturas, rituais e celebrações podem ser assumidos como artefatos e artifícios mnemônicos, que porventura infletem nas experiências e concepções particulares da história e do tempo. Dessa conexão entre memória e parentesco derivam-se, ainda, questões relacionadas ao caráter individual ou coletivo da memória. O curso se debruçará sobre produções etnográficas e sobre teorias antropológicas que, em abstrato, problematizam as múltiplas e variadas formas de manifestação da memória em diferentes formações sociais. Os debates concernentes ao relativismo ou universalismo conceituais do tempo e da história situam-se aí de maneira tributária. Este curso propõe, assim, um recorte bastante específico sobre temas que são tão amplos quanto controversos, dentro e fora da Antropologia. Com algumas digressões pela Sociologia, pela História e pela Filosofia, o propósito do curso é a busca de instrumentos analíticos para dar conta de diferentes apreensões, representações, elaborações e sentidos de memória, tempo e história que os antropólogos percebem e procuram descrever entre os sujeitos que estudam. Da mesma forma que pretende refletir sobre os alcances e limites desses mesmos instrumentais.
Profª Drª Heloisa Buarque de Almeida
Profª Drª Carolina Parreiras Silva
O objetivo deste curso é promover a discussão e o entendimento dos muitos modos como as tecnologias e, em especial, a internet são utilizadas. Neste sentido, quer pensar modos como a internet e as conexões estabelecidas por meio dela, podem ser etnograficamente qualificadas e que implicações teóricas resultam destes esforços. Além disso, com a popularização do acesso, muitas pesquisas, ainda que não tomem o online como campo de pesquisa, têm utilizado informações provenientes da internet. Assim, o curso propõe pensar também nos aspectos éticos envolvidos na coleta e uso de dados, o que leva a uma discussão mais ampla sobre propriedade e conteúdo dentro da rede.
Profa. Dra. Heloisa Buarque de Almeida
Gênero tornou-se uma categoria e uma reflexão teórica muito relevante nas ciências humanas nas últimas três décadas. Sua produção teórica específica tem tido um desenvolvimento e uma produção crescente desde a década de 1970, em diálogo com as teorias sociais, com reflexões acerca das formas de poder e de desigualdade que são social e culturalmente produzidas. Os debates sobre gênero dialogam intensamente com as revisões acerca dos conceitos de sociedade, natureza, cultura, poder, violência, e com as questões de direitos humanos.
A disciplina tem como objetivos mostrar a construção do conceito de gênero nas ciências humanas e sociais, explorando a teoria em diversos níveis – desde a constituição do campo, a forte relação entre teoria de gênero e a teoria antropológica, a questão das interseccionalidade e de outros marcadores sociais da diferença, e os desdobramentos mais contemporâneos no campo.
Prof. Dr. Júlio Assis Simões
Ministrante: Prof. Dr. Diego Madi Dias
Relativizando a hegemonia da heterossexualidade reprodutiva, o curso tem por objetivo oferecer aos estudantes uma visão alternativa aos discursos antropológicos sobre a economia das trocas simbólicas, chamando atenção para os processos de subjetivação envolvendo parentesco e saúde no contexto das sexualidades não reprodutivas.
Prof. Dr. Heitor Frúgoli Júnior
Trata-se de avançar nos fundamentos do campo da antropologia da cidade, com base numa tradição já acumulada, bem como frente aos consideráveis desafios advindos das múltiplas dimensões e crises que assinalam a vida urbana. Isso implica em contemplar, simultaneamente, o fortalecimento desse campo específico no interior da antropologia, os diálogos com outras áreas das ciências humanas, e o cotejo entre tradições existentes em distintos países.
Interessa-nos tomar as cidades como contextos assinalados por linhas de força amplamente diversificadas e heterogêneas, em que o enfrentamento etnográfico constitui uma prática decisiva na reconstituição de redes de relações e conexões, dadas a princípio pelas/os próprias/os citadinas/os, em suas relações com equipamentos e artefatos urbanos. Inicialmente, será realizado um mapeamento da antropologia urbana brasileira, com o exame dos principais referenciais que norteiam essa tradição, com os desafios etnográficos correspondentes. Em seguida, buscar-se-á ampliações de tal âmbito, com enfoque em outras tradições de antropologia urbana (estadunidense, francesa e ibérica) que tomam o espaço urbano como dimensão constitutiva da pesquisa.
Profa. Dra. Ana Claudia Duarte Rocha Marques
O curso se propõe a oferecer um apanhado geral das teorias clássicas, cobrindo uma bibliografia considerada indispensável para a formação de profissionais em antropologia. Ainda que o (discutível) rótulo “teorias clássicas” abrigue um amplo leque de autores, temas e problemas - além de largo espectro cronológico -, trata-se de privilegiar alguns trajetos e tradições, comparando-os.
Profa. Dra. Laura Moutinho
O evolucionismo e o etnocentrismo são lidos como o “outro” do pensamento antropológico. Evitar juízos de valor em sua prática é o desafio que a antropologia coloca aos seus profissionais. Na história da disciplina há um evidente desconforto com a moral, tema sobre o qual a filosofia se debruça desde seus primórdios. Neste sentido, durante o processo de constituição do que denominamos de antropologia moderna, a moral - e também as emoções - foram tratadas como terrenos movediços que poderiam conduzir para dimensões normativas ou de menor importância, já que moral poderia ser subsumida no social e na cultural, não necessitando assim de estudos específicos. No caso das emoções, a evitação é ainda mais pronunciada por terem sido deslocadas para a ordem da intimidade e do privado. Esta disciplina tem por objetivo colocar a moral e a ética sob o escrutínio do pensamento antropológico e interpelar, muito especialmente, os sentimentos morais no campo político em articulação com marcadores sociais da diferença na forma como operam a desigualdade e instituem sujeitos políticos e coletividades. Serão percorridos manuscritos clássicos e etnografias contemporâneas que abordem o tema.
Profª. Dra. Sylvia Caiuby Novaes
Dra. Fabiana Bruno
Dra. Tatiana Helena Lotierzo Hirano
Objetivos da disciplina:
- Refletir sobre as contribuições da antropologia (do) visual e das formas expressivas para o conhecimento e os processos de pesquisa envolvendo arquivos, imagens, exposições e curadorias, com ênfase na fotografia e no desenho; - Experimentar a criação de artefatos, formulação de perguntas e problemas, categorias e métodos que permitam transitar entre fronteiras disciplinares, permitindo-se (con)fabular novos modos antropológicos de pesquisa com imagens; - Tecer diálogos contemporâneos com as artes visuais e processos expositivos, em busca de uma ampliação das possibilidades de expor materiais relacionados a pesquisas etnográficas e suas grafias; - Estabelecer parâmetros para mediações e outros desdobramentos que vislumbrem uma expansão pública das pesquisas em antropologia das formas expressivas e agentivas, inclusive para fora dos quadros da universidade. - Problematizar diferentes grafias (desenhos, fotografias, pinturas, esculturas, gravuras, vídeos, infografia, escrita) em suas conexões e montagens como formas expressivas e agentivas e modos de conhecimento (“formas que pensam”, querem e agem) na antropologia.
Profª. Dra. Fernanda Arêas Peixoto
Dr. Lucas de Mendonça Marques
Dr. Gabriel Guarino Sant'Anna Lima de Almeida
Este curso pretende se debruçar sobre a noção de “cosmotécnica” e seus efeitos e desdobramentos na reflexão antropológica. Partindo do pressuposto de que a técnica não pode ser pensada de maneira antropologicamente universal, o curso volta-se ao modo como diferentes povos articulam a criação, o cosmos e a política por meio das atividades técnicas, e como essa tecnodiversidade oferece saídas ao monotecnologismo ocidental caracterizado pelo antropoceno. Para isso, primeiro apresentaremos o conceito de cosmotécnica em sua genealogia euroasiática, tendo como foco a obra de Yuk Hui e a filosofia chinesa. Em seguida, nos debruçaremos sobre o debate entre Yuk Hui e Eduardo Viveiros de Castro, estabelecendo uma ponte entre a tecnodiversidade e as discussões contemporâneas sobre ontologias, cosmos e técnicas. Feito isso, contrastaremos tal conceito ao de cosmopolítica, investigando possíveis aproximações e distanciamentos em suas genealogias e potencialidades. Por fim, a parte final do curso será dedicada aos seminários discentes, mobilizando o conceito de cosmotécnica como método e ferramenta de análise, a partir de casos etnográficas que nos levarão a um debate sobre cosmopolítica(s) e/ou cosmotécnica(s) possíveis.
Profª. Dra. Silvana de Souza Nascimento
Dr. André Rocha Rodrigues
Esta disciplina tem como objetivo colocar em diálogo dois campos da antropologia: antropologia do corpo e antropologia urbana. A proposta é explorar e orientar interseções entre antropologia do corpo e antropologia da cidade, investigando como as dinâmicas urbanas moldam e são moldadas pelas experiências corporais, processos relacionais e de sociabilidade. Com base em estudos etnográficos e em teorias contemporâneas, o curso pretende examinar o corpo como sendo ao mesmo tempo a ferramenta original com que os humanos moldam o seu mundo e a substância original a partir da qual o mundo humano é moldado; e a cidade como processo relacional e contextual orientado pelas práticas de seus citadinos. Posteriormente, serão debatidas pesquisas contemporâneas que apresentam a relação entre corpo e cidade em diferentes contextos e com diferentes abordagens teórico-metodológicas produzindo diálogos com a crítica decolonial, negra, feminista, transfeminista, entre outras.
Prof. Dr. Guilherme Moura Fagundes
Dr. Leonardo Vilaça Dupin
O curso Tópicos especiais em antropologia da vida (antropologia dos microrganismos) tem lastro nos estudos de ciência e tecnologia (STS), nas etnografias multiespécie e também na antropologia da técnica de matriz maussiana. Ele se focará em uma antropologia da microbiodiversidade, que ganhou espaço na disciplina quando etnógrafos e etnógrafas passaram a olhar para a microbiota como lócus significativo das dinâmicas sociais e ecológicas contemporâneas.
O programa de uma antropologia dos micróbios, inaugurado pelo livro de Bruno Latour, Les Microbes. Guerre et paix, publicado em 1984, que propõe considerar os micróbios como atores para uma ciência renovada da sociedade, tem tido ressonância na disciplina desde o início dos anos 2000, quando novas técnicas de sequenciamento genético passaram a revelar a diversidade microbiana e a especificidade das interações entre humanos e microrganismos. Estas transformações forneceram uma nova lente para a antropologia examinar como diferentes segmentos (cientistas, fiscais sanitários, gestores ambientais, médicos, produtores rurais, consumidores de alimentos fermentados, etc.) percebem e interagem com esses atores, que estão no centro não apenas de questões de saúde e ambientais, mas também políticas, econômicas e culturais.
Etnografias que trazem esses microseres para o primeiro plano emergem em países como os Estados Unidos - como os trabalhos de Stefan Helmreich e Heather Paxson - , investigando a instrumentalização desse atores em microbiopolíticas que operam na contemporaneidade, através de misofobias ou de governamentalidades baseadas na coexistência e inter-relação entre diferentes entidades vivas. Ou mesmo investigam culturas pós-pasteurianas emergentes, para as quais os micróbios não devem ser vistos apenas como agentes patogênicos, mas também como parceiros ecológicos essenciais (misofilia).
Porém, mais do isso que isso, o campo se amplia, passando a investigar a influência de comunidades microbianas em questões de identidade e comportamento que vem redefinindo a as fronteiras entre "o humano" e "o não humano", mas também outros dualismos como “natureza e cultura”, “indivíduo e sociedade”; “pureza e contaminação”, que ressoam em diferentes áreas da disciplina, como nos estudos de ciência e tecnologia (STS) e no campo da virada ontológica que convergem também na problematização dessas fronteiras.
Diante do amplo caráter dinâmico e relacional dos organismos microscópicos, alguns autores têm proposto a construção de um campo de estudo que chamam de "antropologia dos/com micróbios", no qual microbiologia, ecologia, biotecnologia e antropologia podem convergir para oferecer uma compreensão mais complexa das relações entre humanos e seus microbiomas, e que volte sua atenção para um série de fenômenos, como o modo como sociedades desenvolvem técnicas e práticas para antecipar e conter surtos epidêmicos.
Esta disciplina pretende acompanhar essas discussões através da leituras de trabalhos etnográficos, dedicando atenção ao modo como etnógrafos de diferente países têm se engajado para construir sua base empírica, realizando seus trabalhos de campo em temas pandemias, consumo alimentos, estudos marinhos, conservação de obras de arte, construção de solos e, mesmo, uso militar desses microrganismos, de modo a formar estudantes que possam se interessar em se engajar nessa temática, ainda pouco trabalhada no país.
Profª. Dra. Heloisa Buarque de Almeida
Ministrante: Dra. Lorena Rúbia Pereira Caminhas
Contemporaneamente, o digital é uma infraestrutura sociotécnica central, canalizando vários usos sociais e formas de participação nas interações cotidianas. Essa infraestrutura é predominantemente coordenada por grandes empresas de tecnologia, tais como Google, Amazon, Meta, Apple e Microsoft (GAFAM), que têm seus próprios interesses corporativos. Nesse contexto, tanto governos locais como supranacionais têm buscado discutir e implementar uma governança sobre o digital. Ao mesmo tempo, as empresas de plataformas têm produzido sua própria governança por meio de diretrizes de moderação de conteúdo e termos de uso e políticas de privacidade. O Brasil tem sido um ator central nesse debate, buscando promover marcos legislativos para regular o digital. Apesar de haver muita discussão no terreno legal, o debate socioantropológico sobre as dinâmicas e as consequências da governança das plataformas ainda é pouco efetivo. A disciplina pretende avançar nessa discussão e apresentar criticamente as múltiplas forças que têm convergido para a governança das plataformas em território nacional e suas principais consequências.